José Reinaldo Tavares
A história se repete em tudo de forma
idêntica ao que ocorreu em 2002. Explico: estou tratando do falso dilema
de Roseana Sarney nesse chatíssimo ‘sai – não sai’ que ela fomenta nos
seus jornais, como se realmente houvesse um impasse.
No
mês de março de 2002, no último ano do seu segundo mandato como
governadora do Maranhão, período próximo à data limite de
desincompatibilização para concorrer à cargos eletivos, Roseana me
chamou no Palácio dos Leões para comunicar que havia decidido ficar no
governo. Eu entrei no jogo e lhe respondi que dessa forma eu também
ficaria, acompanhando-a até o fim do mandato. Mas eu sabia que ela teria
que sair, pois precisava desesperadamente de um mandato, precisava do
prestígio do cargo de senador, já que assim estaria melhor protegida no
processo que respondia sobre o caso Lunus. Portanto, eu sabia de antemão
que ela teria que sair em abril para concorrer ao senado. E tudo não
passava de estratégia para me desmobilizar, visto que eu não era o
candidato dela. E assim foi. Ela efetivamente saiu, sem nova conversa
comigo, e eu assumi o governo.
Agora o jogo é o mesmo. Arnaldo Melo
nunca foi seu candidato para nada. E ela tenta desmobilizá-lo,
principalmente em uma provável candidatura ao governo em eleição direta.
Passemos então, considerando o atual
panorama, à análise das consequências desse ‘sair ou não sair’ para o
clã. Convido-os a me acompanharem nesse exercício.
Ela, como o pai, só sairão candidatos ao
senado se acharem que tem amplas oportunidades de vencer. José Sarney
só foi derrotado em sua primeira eleição para deputado federal e não
quer encerrar sua longa e vitoriosa carreira com uma derrota que ficará
na lembrança de todos, obscurecendo totalmente sua vida política. A
derrota poderia marcar esse caminho. Só que esse parece ser o caso no
Amapá. Seria uma eleição de altíssimo risco de derrota e isso deve
afastá-lo da disputa, além da fragilidade física, naturalmente, de um
ser humano de 85 anos. Eu acredito que ele não concorrerá.
Já com Roseana é diferente. Para isso,
precisamos compreender a diferença entre a eleição de governador e a de
senador, principalmente a deste ano. No caso do governador, mas
precisamente no caso do Flávio Dino, a eleição dele é uma decisão do
eleitor, não é da classe política. Quem vai eleger Flávio é o eleitor, e
não a classe política, repito. Nesse horizonte, pesa muito o péssimo
governo de Roseana, suas decisões equivocadas, sua propaganda descolada
da realidade, sua brutal rejeição e sua ausência. A televisão,
principalmente os canais de maior audiência, como é o caso da emissora
Rede Globo, ao mostrar com crueza a realidade da vida da grande maioria
da população maranhense, despertou um sentimento de mudança muito forte.
No Maranhão, quem encarna essa mudança é
Flávio Dino, com seu passado de juiz sério, com a maneira direta que se
dirige à população, pela imagem de retidão e de honestidade, pela
espontaneidade de seu abraço na pessoa humilde. Flávio Dino
merecidamente conquistou a confiança e credibilidade da população. E
isso está expresso em mais de ano de pesquisas que não mudam em relação a
ele. O povo está decidido.
Com efeito, Roseana, que, como disse,
tem o mesmo medo do pai – o de ser derrotada em uma disputa ao senado –
só será candidata se achar que tem boas condições de vencer. Se ela não
concorrer, isto se dará única e exclusivamente por medo da derrota. Não
existe outra explicação. Ela sabe que a eleição para governador está
perdida. Ela está no governo, é a governadora atual, fez tudo o que
podia e não conseguiu fazer o seu candidato melhorar nas pesquisas.
Porque então pensaria que sua permanência no cargo de governadora
durante a eleição seria crucial para eleger seu candidato?
Portanto, considerando que o senado não é
pouca coisa, uma eleição sua agora permitiria aos dois – ela e o pai –
saírem dizendo: ‘Estão vendo, diziam que estávamos acabados e está ai a
Roseana eleita senadora!’. Isto evitaria a morte política certa do
grupo, adiaria o desfecho inevitável mais alguns anos e a manutenção
razoável do seu poder.
Logo, eles não estão em condições de recusarem
essa chance, pois sabem que se Roseana não for candidata é o fim do que
foi o grupo Sarney, agora já neste ano, a partir de abril. Politicamente
serão abandonados rapidamente.
Ademais, se ela não for candidata,
Edinho Lobão o será. Então se ele vencer, serão dois membros da família
Lobão em altos escalões e o poder mudará de mãos, saindo da família
Sarney, que o detém há quase cinquenta anos.
Infelizmente, mesmo com todo o caos a
envolvendo, Roseana tem chances de ser eleita. A eleição para o senado é
diferente. Grande parte dos eleitores não sabe o que faz um senador e
não vê grande utilidade neles, já que desconhecem o benefício que eles
podem gerar. Pensando assim, não se importam muito e em consequência
disso, quem elege o senador é a classe política. Roseana sabe que, se
tiver o apoio do futuro governador – que nesse caso será com certeza
Arnaldo Melo, ela terá chances razoáveis de vencer.
Além disso, seu pai, José Sarney, se não
for candidato, virá ajudar a filha e como tem muito prestígio com a
classe política – coisa que Roseana não tem – será muito importante para
sua eleição.
Então esse é o quadro, o resto é cosmética.
Via Marrapá